quinta-feira, 8 de maio de 2014

SOCO NO ESTÔMAGO?

Recebi este artigo através de um grande amigo, por e_mail e o compartilho. 

Como o artigo se baseia nas palavras do próprio Lula e vem do campo petista, deveria provocar reflexões críticas em vez de militância cega, que só empobrece, emburrece, adoece e aborrece.

No que me diz respeito continuo livre pensador e sem partido. 

Aos que condenam, tentam intimidar ou chantagear ideológicamente os sem partido, procuro ver com compaixão, pois também não tenho religião e sei que algumas religiões me condenariam ao inferno, não só por não ter religião, mas específicamente determinada religião, já que todas as outras são condenáveis e não salvam. Alguns partidos são assim.

Se não aceitam que aquilo que significa tudo para eles, pode não significar tanto para mim, nada posso fazer. Sejam felizes com seus partidos, seus líderes, gurus, deuses e semi-deuses. Sejam donos da verdade se quiserem. Só não me imponham.

Acontece que não tenho medo do inferno, apesar de respeitar profundamente as religiões, assim como os partidos políticos não totalitários ou exclusivistas.

 Neste momento me coloco no campo contra hegemônico e pela alternância do poder. O mundo não vai acabar e nem o bolsa família. Os sentimentos de ódio ou desprezo, desde já, não serão correspondidos

Sem muita esperança de que possa contribuir para aclarar o ambiente político fanatizado, compartilho assim mesmo e sempre desconfiando como o Alceu Valença:

"Eu desconfio no sentido estrito / Eu desconfio no sentido lato / Eu desconfio do diabo a quatro..."

PT: corrompido e acuado, por Aldo Fornazieri

seg, 05/05/2014 - 08:14 - Atualizado em 05/05/2014 - 08:19

O PT e seu governo vivem o pior momento desde que a agremiação assumiu o poder em 2003. O partido vem perdendo a batalha intelectual e moral junto à sociedade e aparece cada vez mais identificado como um partido corrupto. O próprio presidente Lula disse, com todas as letras, no último dia dois de maio, que o partido se corrompeu. Ao falar da origem pobre do partido, da militância aguerrida, Lula constatou que aquela postura  foi abandonada e  afirmou que agora “é tudo uma máquina de fazer dinheiro, que está fazendo o partido ser um partido convencional.”
O problema, no entanto, não se restringe à substituição da militância espontânea pela “máquina de fazer dinheiro”. Desde a eclosão da crise do mensalão, principalmente a partir do início do seu julgamento, o partido se deixou ser diariamente massacrado e taxado de corrupto, sem capacidade de expressar reação e de sair da defensiva. O problema se agravou ainda mais nas semanas recentes, com os episódios de André Vargas e da crise da Petrobrás.
Na questão do mensalão, o PT conduziu-se pela política da indecisão e, quem entende de política, sabe que a indecisão é fatal. O partido nunca reconheceu erros em relação ao episódio. Se tivesse cometido erros, o mais correto teria sido vir a público, desde o início do julgamento, reconhecê-los fazendo uma autocrítica, recompondo-se moralmente com a opinião pública. Se não errou, o partido vem se comportando de forma covarde. Se é este o caso, está deixando, passivamente, que se cometa uma injustiça contra seus ex-dirigentes. Se está convicto de que não errou deveria ter mobilizado a militância durante o julgamento e, consumada a condenação, deveria mobilizar-se para exigir uma anistia aos condenados. Em suma, se errou, continua errando por não fazer autocrítica e se não errou, o erro é mais grave porque está deixando que se cometa uma injustiça.  Junto ao senso comum vale a máxima: “quem cala consente” e a imagem que se firma é a de que o partido tem culpa na questão do mensalão.
O PT se desfez da bandeira da luta contra a corrupção e isto é notável há bastante tempo. Mas três episódios recentes chamaram a atenção dos observadores políticos. O primeiro diz respeito à suspeita de graves irregularidades relacionadas ao cartel do metrô e a reforma de vagões, no Estado de São Paulo, envolvendo os governos tucanos. A bancada petista da Assembleia Legislativa e o partido como um todo, estranhamente, não desenvolveram nenhuma grande batalha política para que as suspeitas fossem investigadas. 
O segundo, diz respeito ao expurgo da quadrilha de fiscais que vinha dilapidando os cofres da prefeitura de São Paulo, promovido pelo prefeito Haddad. O prefeito chegou a ser criticado por setores do partido pela ação moralizadora, pois ela afetava, supostamente, conveniências políticas e alianças com o PSD de Kassab. O terceiro episódio se refere ao silêncio dos petistas ante a falta de isonomia do STF em relação ao mensalão mineiro dos tucanos. O mensalão mineiro ocorreu cerca de sete anos antes do mensalão petista. Sequer chegou a ser julgado pelo STF, numa clara violação do princípio da isonomia, fato que denota, mais do que qualquer outro, determinadas escolhas políticas do Supremo. O PT não promoveu nenhuma denúncia acerca do episódio.

A Aristocratização e Falta de Renovação do PT
É certo que o PT ascendeu ao poder com escassa ideologia republicana da virtude. Mas, o partido, quando militava na oposição, era portador de uma ideologia imprescindível ao êxito político: a ideologia da concepção da política como combate. Esta ideologia estabelecia o vínculo do partido com uma das virtudes fundamentais para uma política da moralidade e da construção do bem público: a virtude da coragem. A ideologia da política como combate e a virtude da coragem são barreiras fundamentais para bloquear a concepção da política como  conveniência e negócio, que leva à corrupção. São elas que promovem o compromisso e o radicalismo necessários para estar sempre junto aos setores sociais mais necessitados e mais pobres.
O poder, os palácios, os gabinetes, as viagens, os bons restaurantes, os bons salários, a ascensão social, a visibilidade pública, as boas bebidas, os ternos bem talhados e as novas amizades  amoleceram os corações e as convicções dos petistas que antigamente militavam nas portas de fábrica, nas ruas, nas universidades, nas greves, no enfrentamento da polícia etc. Como não abriram as portas dos palácios e dos gabinetes ao povo, perderam o contato com o mesmo. O povo continua com a baixa renda e pobre, sem direitos a serviços de qualidade, humilhado nas periferias.  O povo enfrenta as bombas da polícia nas desocupações violentas e as balas na militarização das favelas do Rio de Janeiro. O governo deveria ouvir mais o povo e a sociedade civil organizada e menos marqueteiros que sugerem a Dilma ocupar, simbolicamente, uma ridícula posição de “rainha no imaginário popular”.
O governo continua subsidiando o grande capital com uma taxa negativa de juros de 1% através do BNDES. As taxas de juros do povão, endividado nos bancos ou no cartão de crédito, é superior a 90%. Os trabalhadores perdem de duas a três horas diárias no transporte público degradado. O governo subsidia a gasolina para os mais ricos, coloca em risco a Petrobrás e destrói a indústria do etanol. O fato é que os petistas, encastelados nos palácios e nos gabinetes, além de perderem o contato o povo, estão perdendo o reconhecimento e a fidelidade da juventude, dos sem teto, dos moradores da periferia, de muitos trabalhadores e da classe média. Como todo partido, o PT se aristocratizou. Não levou em conta a necessidade de renovação de quadros, de ideias e de inovação nas políticas públicas. Cresce no eleitorado o desejo de aplicar uma vendeta, uma vingança, uma desforra através das urnas, no PT.
O que aconteceu no Ato da CUT, no Primeiro de Maio, quando todos os políticos foram vaiados e repudiados, é um sintoma dessa vendeta. As vaias e as hostilidades que o Secretário Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, enfrentou no Sindicato dos Bancários, no Rio de Janeiro, mostram o tom crítico com que parte da sociedade vê o governo. O fato é que o PT começa a ficar um partido acuado nos ambientes sociais mais amplos. Há quase um consenso acerca dos erros de condução da política econômica do governo, fato reconhecido até por economistas e analistas petistas ou simpatizantes do partido.
A situação se agrava também porque o partido e o governo estão perdendo o compasso da política, situados cada vez mais numa posição de acuo, de defensiva. A campanha eleitoral começa a dominar o ambiente. Há pouco tempo e pouca margem de manobra para o governo e para o partido. É verdade que o PT é, ainda, o partido mais preferido pelo eleitorado. Conta com uma base militante ampla. Mas esta é um exército desmobilizado, mal conduzido e com baixa moral. Talvez, uma reação mais forte seja possível se o partido levar a sério o duro soco no estômago que lhe aplicou o presidente Lula no último dia dois de maio.
Aldo Fornazieri – Cientista Político e Professor da Escola de Sociologia e Política.



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