HEGEMONIA
ÀS AVESSAS?
"A
classe dominante aceitou ceder aos dominados o discurso político, desde que os
fundamentos da dominação que exerce não sejam questionados"
(Francisco
de Oliveira).
Ao
falar dos perigos da despolitização em tempos de hegemonia precisamos deixar
claro que o discurso moralista e contra a corrupção não pode ser o principal ou
o único, sob risco de ser também um discurso despolitizado. A principal
crítica é de natureza política. O principal questionamento é ao poder político
hegemônico representado pelo lulo-petismo e suas bases aliadas. Às políticas
públicas que estão sendo postas em prática atualmente e aos interesses sociais,
econômicos e políticos que representam.
Uma
leitura despolitizada continua a ver apenas uma inocente e necessária
política de alianças onde tudo se justifica: abraçar Maluf, apoiar e
eleger Renan Calheiros, fortalecer as mais atrasadas oligarquias como Collor e
Sarney ou as ‘modernizadas’ como os ruralistas, o agrobusiness.
O
poder acumulado nas mesmas mãos já dá o tom nas principais
políticas sociais, econômicas, ambientais, agrárias, indigenistas,
de saúde e educação, em franco retrocesso, mais neoliberais que os próprios e
assumidos neoliberais, não poupando nem mesmo a saúde e o SUS em franca
privatização.
Uma
visão despolitizada e ingênua justifica o financiamento público concedido para
criar os grandes campeões mundiais ou grandes “players” globais. Uma política
muito bem sucedida diga-se. O FRIBOI já se tornou o maior frigorífico do mundo.
A AMBEV a maior cervejaria do mundo e seu proprietário segundo a ultima Forbes,
o homem mais rico do Brasil, além do Blairo Maggi o maior plantador de soja (e
maior desmatador- com o título internacional de rei da motosserra). Basta seguir
a Forbes, vão aparecer os irmãos Marinho da Globo e até o mal sucedido Eike
Batista teve o seu quinhão do BNDES. É também concentração de renda no mais alto grau.
A
associação desse capital monopolista com os milionários fundos de pensão, sob
controle do lulo-petismo, se constituem na base do poder econômico sem limites
para a exploração desenfreada dos nossos trabalhadores e das nossas riquezas no
presente e no futuro.
HEGEMONIA
ÀS AVESSAS / HEGEMONIA TORTA?
Além
de esclarecer aspectos importantes do conceito de hegemonia em Gramsci, o
sociólogo brasileiro Francisco de Oliveira traça paralelos entre o caso
concreto do Brasil sob o lulo-petismo, configurando uma Hegemonia às
Avessas:
Como
na África do Sul do fim do apartheid, também no Brasil de Lula e do Bolsa
Família parece que os dominados dominam, quando na verdade o governo capitula
diante da exploração desenfreada
Traçando
um paralelo com a África do Sul:
“Talvez
não tenha as mesmas cores dramáticas da África do Sul. Esses processos de
comparação são perigosos em qualquer terreno. Mas vejo no governo do Lula algo
parecido. Você derrota a poderosa discriminação social brasileira, derrota o
preconceito de classe absurdamente alto num país com tradição racista, para
que? Para governar para os ricos. E os ricos consentem, desde que os
fundamentos da exploração não sejam postos em xeque. É o que o PT faz. É o que
o governo do Lula faz. É ao avesso, portanto. A hegemonia é um conceito trabalhado
por Antonio Gramsci que mostra que a dominação de classes, ou qualquer
dominação, se dá sempre por uma mistura de consentimento e violência. Como sou
do Nordeste, tenho muita experiência nisso. Você percebe que há um
consentimento do dominado e o dominante tem obrigações que decorrem desse
consentimento. É o coronel que provê".
Voltando
à ética na política, e à corrupção, ambos encontram espaço na falta de limites
ao poder político hegemônico representado neste momento pelo lulo-petismo e
suas bases aliadas. A total falta de limites funciona como um verdadeiro
convite ao cinismo, ao oportunismo político, à desonestidade intelectual e
material, à corrupção, à impunidade.
Defender abertamente a transição de poder no Brasil, não me coloca numa posição
anti-lulista/petista/dilmista e antes que me acusem de fortalecer o 'outro
lado', os inimigos, devo dizer que não inventei este esquema bipolar, binário,
maniqueísta e bipartidarista dissimulado. Meu universo é mais amplo e dinâmico.
Também não nego conquistas e realizações sociais e históricas. Falo do presente
e do futuro.
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