terça-feira, 30 de setembro de 2014

CROTALUS TERRIFICUS - Paulinho da Viola


Compartilhando Crotalus Terrificus de Paulinho da Viola.
Vi pela primeira vez numa antiga revista editada por Capinam (Ânima). Foi gravada por Arrigo Barnabé em Tubarões Voadores. Acho genial!


 
CROTALUS TERRIFICUS
Paulinho da Viola

Meu nome eu não sei na verdade
Mas como se pode notar amor em mim não falta
Espalho sonho entre aqueles de bem
Como um flautista o som de sua flauta
E muitos pensam que sou o mal
Mas sem provocar ninguém, aceito apenas as modulações
De minha natureza estranha, sensível e sensual
Minha vida é minha, não tenho idade
E não me achando linda às vezes um imóvel grito de dor emito
E morro de ciúmes por quem não me ama
E desapareço, ando só, ninguém me vê
É quando se pode sentir que sou humana
Mas se eu me mexer e sair e tremer meu chocalho
É meu destino envolver umidamente os homens distraídos
Marcá-los deixando meu veneno em suas vidas.

Crotalus terríficus terríficus
Me chamam certos senhores com malícia
Mas eu sou mística, não tenho nada de racional
Sou apenas uma cascavel no gosto popular.


















                                              

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

TURANDOT Andrea Bocelli

  Turandot

Andrea Bocelli

Turandot
Nessun Dorma
Nessun dorma, Nessun dorma!
Tu pure, o Principessa,
nella tua fredda stanza,
guardi le stelle
che tremano d'amore e di speranza.
Ma il mio mistero e chiuso in me,
il nome mio nessun sapra!
No, no, sulla tua bocca lo diro'
quando la luce splendera'!
Ed il mio bacio scioglierà il silenzio
che ti fa mia!
(Il nome suo nessun saprà!
e noi dovrem, ahime, morir!)
Dilegua, o notte! Tramontate, stelle!
All'alba vincero'! No one sleeps! No one sleeps!
You too, O Princess
in your cold room
are watching the stars
which tremble with love and hope!
But my secret lies hidden within me,
no one shall know my name!
No no, on your lips I will tell you,
when daylight will come
and my kiss shall break
the silence which makes you mine
no one shall discover your name!
And we will be able to die!)
Depart, oh night! Fade away, you stars!
At dawn I shall win!



RESUMO DA ÓPERA
Turandot foi a última ópera de Giacomo Puccini. Concluída em 1926, Conta a história de uma princesa, filha de Altum, imperador da China.  Turandot era uma princesa bela e cruel, traumatizada para sempre pela história de sua ancestral a princesa Lo-u-Ling, estuprada e assassinada quando os tártaros invadiram e conquistaram a China. Turandot jurou jamais se casar ou se entregar a um homem.
Mas o império Chinês precisava de um sucessor. A princesa então impôs uma condição ao imperador Altum:  O pretendente teria de resolver três enigmas. Caso falhasse pagaria com a própria vida. Três chances para morrer e apenas uma para viver ao  lado da bela princesa:

1. "Qual é o fantasma que nasce todas as noites, apenas para morrer quando chega a  manhã?"
2.    "O que é vermelho e quente como a chama, mas não é chama?"
3.    "Qual é o gelo que te faz pegar fogo?"
 
Ato I
"Perchè tarda la luna?"
O Príncipe da Pérsia não teve sorte: será executado ao nascer da lua. A multidão aguarda ansiosa para assistir à execução.
A lua surge no céu. Aparece o Príncipe da Pérsia a caminho do patíbulo;
Em êxtase místico, embriagado pela beleza de Turandot (que entra em cena pela primeira vez), não  parece assustado diante da morte.
Tomados de compaixão pelo jovem príncipe, todos suplicam-lhe por clemência. Sem hesitar um  segundo, num gesto imperioso, frio, e cruel, ela dá o sinal ao carrasco que faz descer o machado no pescoço do príncipe.  Neste exato momento surge o Príncipe Desconhecido e se apaixona por Turandot, anunciando sua intenção de se candidatar à mão da princesa. 
Signore ascolta”
No meio da turba ensandecida está o velho Timur, incógnito príncipe destronado dos tártaros, e sua fiel servidora Liù. O Príncipe Desconhecido, filho de Timur, exulta de alegria ao reencontrar seu pai, que julgava morto. Todos tentam demovê-lo da idéia: seu pai, os três ministros imperiais Ping, Pang e Pong, e Liù que, numa comovente ária, Signore ascolta, confessa que está apaixonada pelo príncipe desde o dia em que pela primeira vez o viu sorrir no palácio real.

Non piangere Liù
O Príncipe pede-lhe que nunca deixe de tomar conta de seu velho pai, se ele vier a faltar (Non piangere Liù). Aos gritos gerais de louco! insensato! o que estás fazendo? - o príncipe toma do martelo, e dá três golpes no gongo, sinal de que está se candidatando à mão de Turandot.

Ato II
Os três ministros Ping, Pang e Pong discutem o destino da China,  desde que Turandot começou a reinar. Ninguém mais tem paz no Celeste Império: o machado e os instrumentos de tortura funcionam noite e dia. Monta-se a cena diante do Palácio Imperial para a cerimônia dos enigmas.
Surge em cena o velho imperador Altum, que tenta convencer o jovem pretendente a desistir: "Permite, meu filho, que eu possa morrer sem levar para o túmulo essa culpa pela tua jovem vida, muito sangue já correu!" Mas é tudo em vão, a obstinação do jovem Príncipe Desconhecido deixa todos estupefatos. Surge Turandot, que olha o candidato com olhar frio, impassível, e cheio de desdém. Sua voz se faz soar pela primeira vez: 
"In questa Reggia"
"Neste palácio (In questa Reggia), já faz mais de mil anos, um grito desesperado ressoou; e aquele grito, da flor da minha estirpe, um eco eterno na minh'alma deixou. Princesa Lo-u-Ling!… Há séculos ela dorme na sua tumba enorme! Estrangeiro, desiste! Os enigmas são três, a morte é uma." 
Tendo o príncipe recusado sua última chance de escapar ileso,Turandot expõe seu primeiro enigma:  -Qual é o fantasma que nasce todas as noites, apenas para morrer quando chega a manhã? 
                     -É a esperança,  responde o príncipe. Os três sábios do reino consultam o livro das respostas: primeira resposta, correta.
Turandot, por um breve momento, parece ter sentido um choque, mas não se deixa abater, e diz cheia de escárnio: "Sim! A esperança que ilude sempre!"
Impassível, ela propõe o segundo enigma:
-O que é vermelho e quente como a chama, mas não é chama? 
-O sangue, responde o príncipe.
Os sábios consultam seus livros: a segunda resposta também está correta. Agora, Turandot parece ter perdido um pouco a compostura, mas se convence de que nem tudo está perdido.
O terceiro enigma:     -Qual é o gelo que te faz pegar fogo?
                                -Turandot!
"Turandot! Turandot!" gritam os sábios em coro. Resposta correta! Agora, o desespero toma conta de Turandot, que se atira nos braços do pai: "Pai, não me obrigue a entregar-me a este estrangeiro!" Mas seu pai lhe responde que nada pode fazer: o juramento é sagrado. O Príncipe Desconhecido, porém, afirma que não quer ter Turandot contra a vontade da princesa. Ele propõe-lhe, então, um único enigma; se ela responder corretamente, ele desiste dos seus direitos, e entrega sua cabeça ao carrasco. "Tens até a aurora," diz ele, "para descobrir meu nome."
Ato III
Funcionários públicos percorrem as ruas de Pequim com lanternas acesas. Numa ditadura perfeita, onde ela tem poderes ilimitados, Turandot ordenou que ninguém durma esta noite em Pequim: todos devem ajudar a descobrir o nome do Príncipe Desconhecido. É então que o príncipe canta a celebérrima ária Nessun dorma (Que ninguém durma). Os três ministros Ping, Pang e Pong tentam fazer de tudo para convencer o jovem a desistir, oferecendo-lhe lindas mulheres, riquezas, e um visto de saída da China - mas tudo em vão. De repente, alguém se lembra de que viu o jovem príncipe em companhia de Liù e do velho. Turandot ordena que Liù seja torturada, até que revele o nome do príncipe; ela morre sem dizer uma palavra, numa das mortes mais comoventes de todas as óperas. O dia nasce com o velho chorando sobre o cadáver de Liù. "Liù, bondade! Liù, doçura! Liù, poesia!". Calaf, o principe desconhecido vê Turandot, ela pede que todos saiam e tem um duo com ele (este já composto por Franco Alfano) em que ela se revela humilde. Calaf conta qual é o seu nome, e os guardas chegam; Turandot restaura seu orgulho, mas na hora de falar qual é o nome de Calaf ela fala que o nome dele é "Amor".

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

A FLOR E A NÁUSEA - Drummond

Carlos Drummond de Andrade


A Flor e a Náusea
Preso à minha classe e a algumas roupas, vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias, espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
Posso, sem armas, revoltar-me?

Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.

Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.

Vomitar este tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.

Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.

Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.

Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.

Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.

Carlos Drummond de Andrade )

sábado, 6 de setembro de 2014

BRASIL: OS PERIGOS DA DESPOLITIZAÇÃO EM TEMPOS DE HEGEMONIA E VICE-VERSA AO CONTRÁRIO (2)


 

Retomo um tema que abordei aqui no blog, partindo da premissa de que estamos vivendo no Brasil um processo de hegemonização do poder político, o qual  aposta na despolitização dos cidadãos para se consolidar, evitando questionamentos e tudo que possa colocar limites ao poder hegemônico. 

O melhor exemplo de tentativa de despolitização foi a estratégia lulista da bipolaridade: lula/pt x fhc/psdb e seu corolário, nós e eles, satanização x endeusamento. O cidadão manietado nessa camisa de força é facilmente manipulado e  desestimulado de pensar. Nada de debate de idéias, contraditório e pluralidade. 
Despolitização combina com maniqueísmo (o bem e o mal ou os bons e os maus). Essa estratégia de alguma forma diminuiu o valor de muitos acertos, avanços, conquistas sociais, políticas, econômicas...


No caso das eleições para a presidência da república, o processo de despolitização parecia estar se transformando em processo de politização. A candidatura de Marina exemplifica mas não explica completamente o fenômeno, que é mais profundo e ocorre na sociedade, que começa a se libertar da camisa de força da polaridade empobrecedora em que tentaram nos aprisionar. Há quem considere a campanha de Marina também despolitizada. O mesmo não se poderia dizer do processo eleitoral em curso.
O que ocorre é que o poder político hegemônico não suporta ser questionado. Podemos afirmar, com base na experiência e algumas leituras,  que a luta política ao se expressar claramente como luta política, provoca uma imediata resposta ou uma espécie de reação em cadeia, quase instintiva do poder e seu entorno, seus aliados, apoiadores. O poder produz o pensamento hegemônico  e a hegemonia se expressa, se manifesta, se reproduz. Pouco importa a honestidade intelectual.
 
No Brasil, aprendemos com a nossa experiência e com um pouco de estudo, essa diferença qualitativa da luta política:a luta pelo poder
Não é permitido questionar o poder. Se esta proibição for ignorada, haverá consequências. Esse aprendizado na luta democrática no Brasil,  nos custou caro.
Mas sempre houve uma vanguarda buscando esta luta política, este questionamento do poder.  Sempre houve essa tentativa de politização,  mesmo das lutas econômicas ou reivindicatórias. Essa era a diferença política entre a vanguarda e ‘as massas’ estudantis,  operárias, camponesas.  Ou entre vanguarda e a retaguarda nos movimentos sociais.


Quando penso em ‘despolitização’  a palavra aparece sempre entre aspas, por se tratar de algo aparentemente impensável, tal a amplitude dos significados de política e politização. 
 
O  processo conhecido na física como sublimação me dá uma ideia mais próxima do que acontece  com quem se despolitiza ou aceita conceitos despolitizados, embora lhe causem certo estranhamento, justamente por que não foi sempre despolitizado. 
Sublimação, pode ser traduzida em processos psicanalíticos como uma maneira de transformar algo difícil de aceitar em algo fantasioso, mais aceitável ou palatável. Algo 'sublime' ou sublimado.
Sublimação em física é a passagem do estado sólido diretamente para o estado gasoso, sem passar pelo estado líquido, ou vice versa ao contrário.

Nossa construção do entendimento da ‘despolitização'  começa a se delinear, atentando para a  importância do questionamento. 
Ao não aceitar nada como inquestionável,  passo a questionar o próprio poder.
O sociólogo Chico de Oliveira, comparando a semelhança na atuação dos atuais partidos brasileiros, usou a expressão 'vanguardas do atraso'. Atraso político, nos métodos, objetivos, coerência, visão do futuro.
Durante a ditadura, o movimento estudantil lutar por mais verbas para educação e saúde ainda podia ser tolerado, assim como operários lutando por melhores salários.
Lutar por liberdade de organização e de expressão, pelo voto direto para presidente da república, contra a repressão, por anistia, era vedado durante a ditadura militar.
Qualquer movimento neste sentido era imediatamente rotulado de político. Qualquer movimento político provocava forte repressão.

Convém afastar o pensamento elitista que associa o cidadão politizado ao cidadão letrado, culto ou mesmo acadêmico. Nada mais falso. 
Embora a despolitização prolifere onde falta informação e sobretudo falha a educação, frequentemente vemos até mesmo  políticos e intelectuais ou mesmo acadêmicos pensando e atuando de forma despolitizada.

Se não se posicionam livres para pensar por si mesmos,  podem praticar a despolitização, como se fosse a própria expressão da verdade inquestionável.

Por outro lado,  a participação política,  as lutas sociais,  os debates, os diferentes processos políticos formam cidadãos politizados, conscientes, atuantes, capazes de ações transformadoras da sociedade

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Charles Baudelaire

Sim! reina o Tempo; reassumiu a sua brutal ditadura. E acossa-me, como se eu fosse um boi, com o seu ferrão: - "Eia, burro! Sua, escravo! Vive, condenado!"

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SONATA PATÉTICA

 Sonata Patética  Cassiano Ricardo Como na música de Gil "Lá em Londres querendo ouvir Cely Campelo prá não cair naquela ausência,  naq...