sábado, 26 de abril de 2014

Eu insulto o burgês!

Deveria ser dedicado aos políticos brasileiros e aos que  apoiam cegamente o poder, a mentira, o cinismo, as práticas fascistóides de explorar as carências, a ignorância, a despolitização, a hegemonização das piores formas de exploração do trabalho e dos trabalhadores...

Mário de Andrade: 

Ode ao Burguês 

Eu insulto o burgês! O burguês-níquel,
o burguês-burguês!
A digestão bem feita de São Paulo!
O homem-curva! o homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!

Eu insulto as aristocracias cautelosas!
os barões lampiões! os condes Joões! os duques zurros!
que vivem dentro de muros sem pulos,
e gemem sangues de alguns mil-réis fracos
para dizerem que as filhas da senhora falam o francês
e tocam os “Printemps” com as unhas!

Eu insulto o burguês-funesto!
O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições!
Fora os que algarismam os amanhãs!
Olha a vida dos nossos setembros!
Fará Sol? Choverá? Arlequinal!
Mas à chuva dos rosais
o êxtase fará sempre Sol!

Morte à gordura!
Morte às adiposidades cerebrais
Morte ao burguês-mensal!
ao burguês-cinema! ao burguês-tílburi!
Padaria Suissa! Morte viva ao Adriano!
“_ Ai, filha, que te darei pelos teus anos?
_ Um colar… _ Conto e quinhentos!!!
Mas nós morremos de fome!”

Come! Come-te a ti mesmo, oh! gelatina pasma!
Oh! purée de batatas morais!
Oh! cabelos nas ventas! oh! carecas!
Ódio aos temperamentos regulares!
Ódio aos relógios musculares! Morte à infâmia!
Ódio à soma! Ódio aos secos e molhados!
Ódio aos sem desfalecimentos nem arrependimentos,
sempiternamente as mesmices convencionais!
De mãos nas costas! Marco eu o compasso! Eia!
Dois a dois! Primeira posição! Marcha!
Todos para a Central do meu rancor inebriante!

Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio!
Morte ao burguês de giolhos,
cheirando religião e que não crê em Deus!
Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico!
Ódio fundamento, sem perdão!

Fora! Fu! Fora o bom burguês!…

BUDA NAGÔ

Buda Nagô

Gilberto Gil

Dorival é ím-par
Dorival é par
Dorival é ter-ra
Dorival é mar
Dorival tá no pé
Dorival tá na mão
Dorival tá no céu
Dorival tá no chão
Dorival é be-lo
Dorival é bom
Dorival é tu-do
Que estiver no tom
Dorival vai can-tar
Dorival em C-D
Dorival vai sam-bar
Dorival na T-V
Dorival é um Buda nagô
Filho da casa re-al da inspiração
Como príncipe, principiou
A nova idade de ouro da canção
Mas um dia Xan-gô
Deu-lhe a i-lumina-ção
Lá na beira do mar (foi?)
Na praia de Arma-ção (foi não)
Lá no Jardim de A-lá (foi?)
Lá no alto ser-tão (foi não)
Lá na mesa de um bar (foi?)
Dentro do cora-ção
Dorival é E - va
Dorival Adão
Dorival é li-ma
Dorival é limão
Dorival é mãe
Dorival é pai
Dorival é o pe-ão
Balança, mas não cai
Dorival é um monge chinês
Nascido na Roma negra, Salvador
Se é que ele fez for-tuna, ele a fez
Apostando tudo na carta do amor
Ases, damas e reis
Ele teve e pas-sou (iaiá)
Teve o mundo aos seus pés (ioiô)
Ele viu, nem li-gou (iaiá)
Seguidores fi-éis (ioiô)
E ele se adian-tou (iaiá)
Só levou seus pin-céis (ioiô)
A viola e uma flor
Dorival é ín-dio
Desse que anda nu
Que bebe gara-pa
Que come beiju
Dorival no Ja-pão
Dorival samu-rai
Dorival é a na-ção
Balança mais não Cai.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Compartilhando + Gabo




Em A Incrível e Triste História de Cândida Erêndira e Sua Avó Desalmada, o personagem Onésimo Sanchez, candidato a senador,   em momento de intimidade com uma jovem prostituta, pergunta a opinião dela sobre ele, cuja campanha tinha como slogan: Onésimo, o candidato distinto.
Antes de responder, a jovem questiona se era para dizer o que ele gostaria de ouvir, ou a verdade. O candidato afirma que podia ser o que ela preferisse, pois a verdade não lhe importava.
A resposta da jovem: Acho o senhor pior do que os outros candidatos,  porque é 'distinto'.

O MASSACRE DA COMPANHIA BANANEIRA


Em seu livro CEM ANOS DE SOLIDÃO 
A partir de fatos reais, Gabriel Garcia Marquez reconstrói o Massacre de Aracataca - da Companhia Bananeira (United Fruit): 

Os Três Mil Mortos na Estação de Trem.
 “Macondo tinha sido um lugar próspero e bem encaminhado até que o perturbasse, corrompesse e explorasse a companhia bananeira, cujos engenheiros provocaram o dilúvio como um pretexto para fugir aos compromissos com os trabalhadores.”

"esperando um trem que não chegava, mais de três mil pessoas, entre trabalhadores, mulheres e crianças, tinham atulhado o espaço descoberto em frente da estação e se apertavam nas ruas adjacentes, que o exército fechara com filas de metralhadoras.
- Senhoras e senhores –disse o capitão com uma voz baixa, lenta, um pouco cansada- têm cinco minutos para se retirar.
A vaia e os gritos repetidos afogaram o toque de clarim que anunciou o princípio do prazo. Ninguém se mexeu.
- Já passaram os cinco minutos –disse o capitão no mesmo tom.- Mais um minuto e atiramos.
José Arcádio Segundo, suando gelo, desceu o menino dos ombros e o entregou à mulher. “Esses cornos são capazes de disparar”, murmurou ela. José Arcádio Segundo se ergueu acima das cabeças que tinha pela frente, e, pela primeira vez em sua vida levantou a voz.
- Cornos! –gritou-. Podem levar de presente o minuto que falta.

Ao fim do seu grito aconteceu uma coisa que não lhe produziu espanto, mas uma espécie de alucinação. O capitão deu a ordem de fogo e quatorze ninhos de metralhadoras responderam imediatamente. Mas tudo parecia uma farsa. Era como se as metralhadoras estivessem carregadas com fogos de artifício, porque se escutava o seu resfolegante matraquear e se viam as suas cusparadas incandescentes, mas não se percebia a mais leve reação, nem uma voz, nem sequer um suspiro, entre a multidão compacta que parecia petrificada por uma invulnerabilidade instantânea. De repente, de um lado da estação, um grito de morte quebrou o encantamento: “Aaaai, minha mãe”. Uma força sísmica, uma respiração vulcânica, um rugido de cataclisma, arrebentaram no centro da multidão com uma descomunal potência expansiva, enquanto a mãe e o outro eram absorvidos pela multidão centrifugada pelo pânico.

Muitos anos depois, o menino haveria de contar ainda, apesar de os vizinhos continuarem a encará-lo como um velho maluco, que José Arcádio Segundo o erguera por cima da sua cabeça e se deixara arrastar, quase no ar, como que flutuando no terror da multidão, para uma rua adjacente. A posição privilegiada do menino lhe permitiu ver que nesse momento a massa ululante começava a chegar na esquina e a fila de metralhadoras abriu fogo.
 
Os sobreviventes, em vez de se atirarem no chão tentaram voltar à praça e o pânico deu uma rabanada de dragão, e os mandou numa onda compacta contra a outra onda compacta que se movimentava em sentido contrário, despedida pela outra rabanada de dragão da rua oposta, onde também as metralhadoras disparavam sem trégua. Estavam encurralados, girando num torvelinho gigantesco que pouco a pouco se reduzia ao seu epicentro, porque os seus bordos iam sendo sistematicamente recortados em círculo, como descascando uma cebola, pela tesoura insaciável e metódica da metralha. O menino viu uma mulher ajoelhada, com os braços em cruz, num espaço limpo, misteriosamente vedado aos disparos. Ali o colocou José Arcádio Segundo no instante de cair com a cara banhada em sangue, antes que o tropel colossal arrasasse com o espaço vazio, com a mulher ajoelhada, com a luz do alto céu de seca e com o puto mundo onde Úrsula Iguarán tinha vendido tantos animaizinhos de caramelo.   
... tentando fugir do pesadelo, José Arcádio Segundo arrastou-se de um vagão a outro... via os mortos homens, os mortos mulheres, os mortos crianças ... Quando chegou no primeiro vagão deu um salto na escuridão e ficou estendido em uma vala até que o trem acabou de passar. Era o mais comprido que já tinha visto, com quase duzentos vagões de carga e uma locomotiva em cada extremo e uma terceira no centro. Não tinha nenhuma luz, nem sequer os faróis vermelhos e verdes de disposição, e deslizava numa velocidade noturna e sigilosa. Em cima dos vagões se viam os vultos escuros dos soldados com as metralhadoras preparadas. 
José Arcadio Segundo caminha mais de três horas embaixo de um aguaceiro torrencial e então avista uma casa na qual é recebido pela proprietária que fica assustada ao vê-lo, pois ele parece ter sido tocado pela solenidade da morte. Ele comenta com a mulher que devem ter sido três mil mortos e a mulher nega dizendo que desde o tempo do coronel que não acontece nada em Macondo. Depois ele passa em 3 casas onde lhe dizem a mesma coisa: Não houve mortos

GABRIEL GARCIA MARQUEZ










Pensando em reler o Gabriel Garcia Marquez, me lembrei de um momento de síntese, em que o seu personagem de O Amor nos Tempos do Cólera, após perder o grande amor de sua vida, encontra numa feira um grande frasco de perfume  que evoca o objeto amado e perdido. Depois de comprar o perfume e cheirar intensamente, evocando seu grande amor, ele passa a jogar no corpo inteiro, a beber até ficar embriagado do perfume e a passar mal, vomitar, ter cólicas, diarréia, convulsões e sintomas que lembravam o cólera que assolava naquela época. O médico foi chamado e com sua grande experiência, logo reconheceu do que se tratava. Não era cólera. Era amor. Os sintomas são os mesmos....

sábado, 12 de abril de 2014


CONTRA A DESQUALIFICAÇÃO,  DEBATE QUALIFICADO

O Brasil vive em situação de normalidade democrática e econômica apesar dos conhecidos problemas. Nada de iminente ou catastrófico vai acontecer. A eleição para presidente da república não está ganha de véspera, no 1o  turno, mesmo que seja Lula o candidato do pt.

 O mundo não vai acabar e nem o bolsa família. 

Vai ter copa. Torcer pelo pior, não é inteligente. Haja o que houver, sobreviveremos. É uma escolha política. Para presidente da república. Não do messias, do salvador da pátria. Religião, cada um que fique com a sua e fale para os seus fiéis.

Que me perdoem os amigos mais apaixonados, que cultivam adjetivos para desqualificar opositores ou se furtar ao debate de ideias, questões e projetos, achando que é o melhor para o seu candidato. Isto se chama atraso político. E é burrice, todos saem perdendo.

Me reservo o direito de mudar meu voto ou votar nulo. De debater qualquer assunto e questionar o que precisar ser questionado. Não aceito temas tabu, ou figuras sagradas.

Sem medo de chantagens ideológicas ou tentativas de intimidação intelectual. Sem apoiar cegamente nada, ninguém.

O tema da saúde me é especialmente caro. Um exemplo: Quem apoiou e apoia cegamente, o programa mais médicos, contribuiu para forçar uma melhora na remuneração dos médicos por parte do governo? Ou quem questionou e questiona? Insistir na igualdade de condições, na liberdade, na dignidade do trabalho médico para todos seria errado? Não é meio fascistóide esse apoio cego? 
Sinval Malta Galvão
Livre pensador e sem partido.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

A nudez e o avesso

Marina Silva 
Folha de São Paulo - 04/04/2014

A nudez e o avesso
Há 50 anos, um sistema ditatorial sequestrou a potência dos atos políticos no Brasil. Sob controle e censura, a política tornou-se expressão de impotência, terreno estéril onde só cresciam pequenas disputas, maledicências e mesquinharias. As boas ideias e o bom combate, arrancados do chão, resistiam nas frestas dos muros.
A democracia restaurou a fertilidade. No chão da praça, outra vez do povo, reencontramos o poder de desejar. E nada "foi", tudo ainda é. Continuamos tendo que resistir às tentações autoritárias que permeiam nossa frágil democracia e afirmar --sempre voltando às ruas e praças-- a política como potência de "acreditar criando", na feliz expressão da psicopedagoga Alicia Fernández.
Mas outro atalho --que resulta em descaminho-- persiste entre nós: a ilusão da onipotência. O carisma personificado nos pais da pátria e dos pobres, o coronelismo das oligarquias, a manipulação emocional da propaganda, o uso abusivo de linguagem subliminar e imagens arquetípicas, tudo o que lastreia a política na concentração de poder atrasa a evolução da democracia.
É na política como exercício da onipotência que brota a decisão de eleger "postes" e cuidar para que se comportem como postes, até que sejam retirados do lugar por algum motivo tático ou estratégico de quem os colocou. É também ilusão de onipotência tratar os cidadãos-sujeitos como eleitores-objetos, que tem proprietários e podem ser roubados por pretendentes não autorizados.
Avançamos na história quando afirmamos a política como potência, carregada com a energia das ideias e sonhos, necessidades e desejos. Evoluímos em civilização ao reconhecer nossa humana incompletude e promover o diálogo entre os que não tem a ilusão de bastar-se. Retrocedemos quando sucumbimos à política da impotência ou da onipotência, ambas baseadas na deposição do único detentor legítimo do poder na democracia, o povo, e sua substituição por indivíduos ou grupos que se julgam editores da história e donos da civilização.
Quando a perversão não consegue se disfarçar de virtude, dizemos que o rei está nu. Os pensadores rebeldes, de Nietzsche a Foucault, desnudaram e expuseram a natureza do poder. Os novos meios de comunicação estão ampliando essa consciência de milhares para milhões.
Na Amazônia, quando o caboclo se perde na mata e vê que está sendo atraído por uma jiboia que o faz andar em círculos, apela para o inusitado: veste a roupa pelo avesso. Assim desfaz o encanto hipnótico e encontra o caminho.
Eis o Brasil na esquina do mundo: o rei nu, o povo ao avesso. Um momento instigante em que se pode distinguir os caminhos dos atalhos.

SONATA PATÉTICA

 Sonata Patética  Cassiano Ricardo Como na música de Gil "Lá em Londres querendo ouvir Cely Campelo prá não cair naquela ausência,  naq...