DOIS FILHOS VERMELHOS
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A cena se deu na época da ditadura militar, na
Maçonaria de Itapetinga, sudoeste baiano. Velhos amigos confraternizando em dia
especial para os maçons. Filhos estudando
em Salvador. Época do AI5, repressão, prisões, mortes. O assunto comunismo e os vermelhos, os comunistas, virou tabu, mesmo para quem tinha algum “subversivo” na família.
De repente o velho Gérson,
pai de Gerson Filho tido como vermelho, um amigo e irmão maçon se
aproximou do pai, olhou em volta e perguntou em voz baixa:
-Fala a verdade. Tu também tem um filho vermelho!
-Eu tenho é dois filhos vermelhos! respondeu o pai se referindo ao mano Beto e a
mim, olhando em volta cauteloso pois a barra era muito pesada para os
considerados subversivos. Se pegos em ação, era caixão e vela.
Confraternizaram cúmplices e o pai que não gostava do
comunismo mas se dava bem com os comunistas e seus familiares, contou ao amigo Gerson, que o filho mais velho
era paraquedista do exército em treinamento na selva amazônica para combater
guerrilhas e guerrilheiros.
-E se acontecesse um confronto entre os irmãos? quis saber o velho Gérson.
Meu pai que era um democrata de verdade, tinha orgulho igual dos filhos e achava tudo
aquilo natural e admirável de algum modo, não se deu por achado:
-Vou lá e paro a guerra, a guerrilha, o que for, tiro os
meninos de lá e depois eles continuam se quiserem.
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