quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

3 Poemas

 Pearl Buck (1892-1973). Veja mais aqui.


TRÊS POEMAS - O ESCUDO DE AQUILES: Ela olhava por sobre os ombros / à procura de vinhas e olivais / mármores e cidades bem governadas / e navios no mar escuro, de vinho. / Mas ali no metal brilhante, / às mãos dele ao invés colocaram / um deserto artificial/ e um céu de chumbo. / Uma planície sem futuro, nua e escura, / nenhuma folha de grama, nem sinal de vizinhança, / Nada para comer nem um lugar para sentar. / Todavia congregados nessa desolação / um milhão de olhos, um milhão de botas, em linha, / sem expressão, à espera de um sinal. / Do ar uma voz sem face / provava pela estatística que alguma causa era justa / em tons são secos e rasos como aquele lugar. / Ninguém foi aclamado e nada foi discutido. / Coluna por coluna, numa nuvem em pó, / para longe marchava, conduzindo, para lamentar algures, / a crença que a lógica lhes trouxera. / Ela olhava por sobre os ombros / à procura de piedades rituais, / novilhas com grinaldas de brancas flores, / libação e sacrifícios. / Todavia ali no metal brilhante, / onde deveria estar o altar, / viu, à luz vacilante da sua forja, / uma cena diferente: / o arame farpado cercava um local arbitrário / onde oficiais amolados espreguiçavam (um deles dizia uma piada). / E as sentinelas transpiravam, porque o dia estava quente. / Uma multidão de pessoas comuns e decentes / espiava de fora e ninguém se movia ou falava, / enquanto três postes implantados verticalmente no solo. / A massa e a majestade deste mundo. / Tudo o que possui peso e sempre pesa o mesmo / repousa nas mãos dos outros. / Eles eram pequenos e não podiam esperar por socorro / e não veio qualquer socorro. / O que os seus inimigos pretendiam fazer foi feito; / sua vergonha era tudo de pior que podiam desejar: / perderam o orgulho próprio e morreram como homens / antes que seus corpos morressem. / Ela olhou por sobre os ombros / à procura de atletas nos seus jogos, / mulheres e homens a dançar, / movendo os doces membros, / rápidos, rápidos, com a música. / As mãos dele não prepararam um palco de dança / um garoto maltrapilho, sem destino e solitário, / vagabundeava nesse vazio. Um pássaro voou por segurança, / com medo das suas pedradas certeiras. / Que uma jovem fosse violada, que dois rapazes esfaqueassem um terceiro, / para ele eram axiomas, ele que nunca ouvira falar / de nenhum mundo onde as promessas fossem cumpridas, / ou onde um poderia chorar porque um outro chora. / O escudeiro de lábios finos, / Hephaestos, se foi claudicando, / Thetis, a dos seios brilhantes, / gritou assombrada / com o que Deus forjou / para agradar a seu filho, o forte Aqules, / de coração de ferro e matador de homens / que não haveria de viver muitoO CIDADÃO DESCONHECIDO: Segundo apurou o Instituto de Estatística, / Contra ele nunca existiu qualquer queixa oficial, / E todos os relatórios sobre a sua conduta confirmaram: / No moderno sentido de uma palavra velha, ele era um santo, / Pois em tudo o que fez serviu a Grande Comunidade. / Com excepção da Guerra e até ao dia da reforma, / Trabalhou numa fábrica e nunca foi despedido;sempre satisfez os seus patrões, Máquinas Fraude, Ltda. / Mas não era fura-greves nem tinha opiniões estranhas, / Pois o Sindicato informa que sempre pagou as quotas / (E o seu Sindicato tem a nossa confiança), / E o nosso pessoal de Psicologia Social descobriu / Que ele era popular entre os colegas e gostava de um copo. / A Imprensa não duvida de que comprava um jornal por dia / E que as reacções à publicidade eram cem por cento normais. / Apólices tiradas em seu nome provam que tinha todos os seguros, / E o Boletim de Saúde mostra que esteve uma vez no hospital e saiu curado. / Tanto o Gabinete de Estudos dos Produtores como o da Qualidade de Vida declaram / Que estava plenamente sensibilizado para as vantagens da Compra a Prestações / E tinha tudo o que é preciso ao Homem Moderno: / Um gira-discos, um rádio, um carro e um frigorífico. / Os nossos inquiridores da Opinião Pública alegraram-se / Por ter as opiniões certas para a época do ano; / Quando havia paz, era pela paz, quando havia guerra, ele ia, / Era casado e aumentou com cinco filhos a população, / O que, diz o nosso Eugenista, era o número certo para um pai da sua geração, / E os nossos professores informam que nunca interferiu com a sua educação. / Era livre? Era feliz? A pergunta é absurda: / Se algo estivesse errado, com certeza teríamos sabidoFUNERAL BLUES: Que parem os relógios, cale o telefone, / jogue-se ao cão um osso e que não ladre mais, / que emudeça o piano e que o tambor sancione / a vinda do caixão com seu cortejo atrás. / Que os aviões, gemendo acima em alvoroço, / escrevam contra o céu o anúncio: ele morreu. / Que as pombas guardem luto — um laço no pescoço — / e os guardas usem finas luvas cor-de-breu. / Era meu norte, sul, meu leste, oeste, enquanto / v veu, meus dias úteis, meu fim-de-semana, / meu meio-dia, meia-noite, fala e canto; / quem julgue o amor eterno, como eu fiz, se engana. / É hora de apagar estrelas — são molestas — / guardar a lua, desmontar o sol brilhante, / de despejar o mar, jogar fora as florestas, / pois nada mais há de dar certo doravante. Poemas do poeta, dramaturgo e editor britânico Wystan Hugh Auden

SONATA PATÉTICA

 Sonata Patética  Cassiano Ricardo Como na música de Gil "Lá em Londres querendo ouvir Cely Campelo prá não cair naquela ausência,  naq...