domingo, 15 de dezembro de 2013

BRASIL: OS PERIGOS DA DESPOLITIZAÇÃO EM TEMPOS DE HEGEMONIA E VICE-VERSA AO CONTRÁRIO (2)


  A  Despolitização a  Castração, a Sublimação e o Avestruz.

des.po.li.ti.za.ção) sf. Ação ou resultado de despolitizar(-se) . Ausência ou perda da consciência dos fatos políticos: A barreira educacional manteve a despolitização das periferias [F.: despolitizar + -ção.] despolitizante.



Parto da premissa que estamos vivendo no Brasil um processo de hegemonização do poder político, o qual necessita da despolitização dos cidadãos para se consolidar, evitando questionamentos ou quaisquer limites ao poder hegemônico.
Quando penso em ‘despolitização’  a palavra aparece sempre entre aspas, por se tratar de algo aparentemente impensável, tal a amplitude dos significados de política e politização. 
 
É como se a despolitização fosse contraditoriamente, um processo político  e não o contrário da politização. Daí o perigo de servir à consolidação de hegemonias, geralmente antidemocráticas.
Várias imagens me vem à mente: A mais óbvia e imediata é do avestruz mergulhando a cabeça na areia. Apesar de óbvia, a imagem é um mito, pois já foi comprovado que o avestruz não enterra a cabeça na areia, embora possa dar essa impressão, visto de longe, quando está defendendo o filhote ou catando  grãos e pedras para ajudar na digestão. 

De certa forma o 'despolitizado' age assim também, procurando engolir pequenas pedras, sapos, grãos, para ajudar na digestão de coisas indigestas.

 A outra imagem é a da castração política ou auto-castração  do pensamento e da ação,  em nome de algo mais importante,  mais forte.   A figura do ‘eunuco político’ muito frequente nos políticos,  partidos governistas e nas bases aliadas dos governos. Tornam-se incapazes de representar sequer a si próprios.

O  processo conhecido na física como sublimação me dá uma ideia mais próxima do que acontece  com quem se despolitiza ou aceita conceitos despolitizados, embora lhe causem certo estranhamento, justamente por que não foi sempre despolitizado. 
Sublimação, pode ser traduzida em processos psicanalíticos como uma maneira de transformar algo difícil de aceitar em algo fantasioso, mais aceitável ou palatável. Algo 'sublime'.
Sublimação em física é a passagem do estado sólido diretamente para o estado gasoso, sem passar pelo estado líquido, ou vice versa ao contrário.

Nossa construção do entendimento da ‘despolitização'  começa a se delinear, atentando para a  importância do questionamento. 
Ao não aceitar nada como inquestionável,  passo a questionar o próprio poder.
O poder político hegemônico não suporta ser questionado. Podemos afirmar, com base na experiência e algumas leituras,  que a luta política ao se expressar claramente como luta política, provoca uma imediata resposta ou reação, quase instintiva do poder.
 
No Brasil, aprendemos com a nossa experiência e com um pouco de estudo, essa diferença entre a luta política e a luta econômica ou reivindicatória.
Não é permitido questionar o poder. Se esta proibição for ignorada, haverá consequências. Esse aprendizado na luta democrática no Brasil,  nos custou caro.
Mas sempre houve uma vanguarda buscando esta luta política, este questionamento do poder.  Sempre houve essa tentativa de politização,  mesmo da luta econômica ou reivindicatória. Essa era a diferença política entre a vanguarda e ‘as massas’ estudantis,  operárias, camponesas.  Ou entre vanguarda e a retaguarda nos movimentos sociais. 

O sociólogo Chico de Oliveira, comparando a semelhança na atuação dos atuais partidos brasileiros, usou a expressão 'vanguardas do atraso'. Atraso político, nos métodos, objetivos, coerência, visão do futuro.
No movimento estudantil, lutar por mais verbas para educação e saúde ainda podia ser tolerado, assim como operários lutando por melhores salários.
Lutar por liberdade de organização e de expressão, pelo voto direto para presidente da república, contra a repressão, por anistia, era vedado durante a ditadura militar.
Qualquer movimento neste sentido era imediatamente rotulado de político. Qualquer movimento político provocava forte repressão.

Convém afastar o pensamento elitista que associa o cidadão politizado ao cidadão letrado, culto ou mesmo acadêmico. Nada mais falso. 
Embora a despolitização prolifere onde falta informação e sobretudo falha a educação, frequentemente vemos até mesmo  políticos e intelectuais ou mesmo acadêmicos pensando e atuando de forma despolitizada.
Mesmo as mais avançadas análises acadêmicas inter, multi ou transdisciplinares podem revelar uma transdisciplinaridade despolitizada ou o que dá quase no mesmo, uma despolitização transdisciplinarizada, por mais brilhante que possa parecer.
Se não se posicionam livres para pensar por si mesmos,  podem praticar a despolitização, como se fosse a própria expressão da verdade inquestionável.
Vis a vis, um exemplo de expressão popular politizada da era Varguista, diz respeito ao governante considerado como “o pai dos pobres", ser também  irônicamente   chamado de a “mãe dos ricos”. 
Aparentemente não deixavam de amá-lo mesmo assim.  Foi ditador e depois foi presidente da república através de eleições diretas.
Por outro lado,  a participação política,  as lutas sociais,  os debates, os diferentes processos políticos formam cidadãos politizados, conscientes, atuantes, capazes de ações transformadoras da realidade.
 (continua...)

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